Por um lado, em tempos de felicidade barata, que seduz a uma vida de liquidação, as palavras de Carpinejar convocam-nos a um desafio que começa por não negar a dor que marca sua presença aqui e ali, agora e daqui a pouco. Existir dói, ao contrário do que se propaga por aí.
Por outro lado, aninhar-se na dor, gozando na repetição da sua queixa e identificados com ela, equivale a abrir mão de sermos sujeitos para nos tornarmos objetos do seu manejo, aceitando as migalhas que nos oferece.
Às vezes, a gente dribla a dor; vez por outra damos-lhe uma rasteira... Mas ela é obra sorrateira, erva daninha que insiste em se revigorar. O poeta diz que ela vem morar com a gente, e é justamente aí que está a precisão do seu conselho: ela tem que trabalhar! Tem que nos sacudir com vigor suficiente para que não continuemos nos alimentando dela, subnutridos na paralisia e no vazio de afeto.
Nascemos da dor e morreremos pelas mãos dela. No meio do caminho, entre um ponto e outro, ou nos tornamos seus escravos ou fazemos com ela uma parceria para percorrer duas vias: a da produção e a do amor.
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