Essa foto foi tirada meses antes do meu pai, definitivamente, se despedir. Sem que eu soubesse disso, ela me comoveu pelo que há de prosaico nela – dois velhinhos de braços dados rumo ao mercado, com seu carrinho de feira. O passo curto avança, lento, ao seu destino; enquanto a tarde vai cedendo ao neon que acende a noite. Tudo nela é ocaso. Tudo é despedida, menos o amor – esse sentimento que inunda apesar de...
Não é exatamente no apesar de... que o amor se inscreve? Num ponto qualquer que pode suportar a diferença, as impossibilidades, os tropeços da história? Não é sempre assim? Na insistência de permanecer, em silêncio, quando a palavra cansa, ou não cabe?
Às vezes me pergunto: então, quando o amor morre? A única resposta que encontro mora num determinado esquecimento – o dele próprio. A única exigência que o amor faz, e essa sem nenhuma condescendência, é a de lembrar a quem se ama sobre esse sentimento que não obedece à economia. A lealdade ao amor está em honrar sua existência, e isso, necessariamente exige que o outro se reconheça nele.
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