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Foto do escritorEliza Maciel

Petit Mort

No entendimento da Astrologia, Netuno é um dos deuses da mudança. Seu toque lança sobre a seara em que está atuando uma bruma que impede a clareza da visão, nos ilude; mas principalmente nos convoca, cegos para a paisagem, a olhar para dentro. De certa forma, algo perdeu seu sentido, algo saiu do foco nas nossas identificações. Somos inundados por mares de emoções e, muitas vezes, perdemos o Norte. O vazio de sentido que marca nossa existência ganha amplitude e, em grande angular, nos pergunta: O que você deseja agora? O que faz sentido para você?


Podemos dizer que, de certa forma, Netuno nos embaraça a visão para que sejamos obrigados a tatear o caminho. Nossa falta de uma essência nos indaga sobre o que desejamos construir, produzir, num eterno vir-a-ser que nunca se faz. Estamos diante da consciência do que Nietzsche chamou de niilismo e é preciso encontrar, segundo ele, uma “vontade de potência” para inventar algum sentido. Diante do vazio que está diante de nós descortinado, o risco é de buscar anestesias. “O vício é uma tentativa de escapar do sofrimento” dizia Schopenhauer. Queremos nos manter num gozo eterno, livre de limites, e nessa terra de ninguém perdemos a vida.


Gosto de pensar na metáfora do jogo sexual: quanto tempo ficamos empenhados nos percursos que nossos corpos anseiam, exigindo de nós e do outro cada passo da dança – essa arte que conjuga força e leveza; equilíbrio e entrega – até o momento que culmina no gozo? “Petit mort” dizem os franceses sobre esse instante de plenitude e vazio concomitantes, êxtase de prazer na borda da dor. Instante – fragmento do tempo.


Permanecer no gozo é, portanto, mortificar-se. Permanecer vivo é devolver-se ao jogo buscando o novo sentido, uma nova satisfação, sobre o que Netuno nos indagava.



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