A gente tenta de mil maneiras. Começamos nos alienando à expectativa do “outro-mãe”, na ilusão de um lugar que nos justifique. Logo cedo, não seremos o bastante para ela e um desvio do seu olhar faz o “Outro-pai-mundo” entrar na história. É por sua mão que ingressamos na (des)ordem do mundo. Daí para diante a gente vai ter que se virar. E se vira, meio amassado, capenga, magoado...
... A gente aprende as palavras para tentar se dizer e dizer o que quer ao Outro; e como nenhuma palavra basta, nenhuma resolve, a gente encosta no nada de vez em quando.
Para isso que a gente não consegue dizer que inventaram o nome de angústia, que nada mais é do que a falta de outra palavra que diga o que realmente a gente deseja. Esse território é meio Terra de Ninguém – metade pântano; metade deserto…
Mas a gente segue, meio amassado, capenga, magoado...
O tal desejo, que nasceu para gente naquele desvio de olhar, lateja, insiste... e a gente aprende (é melhor aprender) a pendurar nele coisas, objetivos, metas. E quando não servem mais, escolhemos outros, retificamos rotas, mudamos rumos.
Nessa estrada, onde adiamos o fim para outro dia qualquer (hoje não!), a gente entende em algum momento que não se basta... e olhando para o “Outro-multidão” procura um “Outro-outro” para um convite especial. Nessas horas a gente corre um risco danado de querer voltar àquele estado de alienação, onde se acredita numa suposta completude que costumamos chamar de amor. Quando a gente faz isso, confunde amor com morte – a morte do sujeito que busca.
Chamamos essa aposta de completude de paixão – a ilusão mortífera –; mas se essa aposta desliza para o encontro das diferenças, para o (des)encaixe, onde cabe o desejo de um e o de outro; e entre eles a eleição viva de ambos, um pelo outro; ah então construímos o amor.
... Mas, como isso também não resolve, e o nada está lá, olhando para gente, pedimos ao poeta a segunda opinião... O que é a vida?
“Ela é a batida de um coração / Ela é uma doce ilusão.” Gonzaguinha
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