(...) acho que está na hora de conversarmos mais. O pior que pode acontecer são as pessoas divididas, odiando umas às outras. Wagner Moura em entrevista ao Jornal O Globo.
Recentemente, uma aula me lembrou que a Filosofia nasceu na Pólis, num compromisso com a coerência da articulação lógica argumentativa que, admitindo a crítica e o discurso plural, se estabeleceu no alvorecer da democracia.
Vivi meus primeiros vinte anos sob a ditadura no Brasil, e ouvindo que a democracia era um bem maior, a ser resgatado. De 1985 pra cá, já são quase quarenta anos dessa reconstrução, e a gente gosta de acreditar que, uma vez conquista
do algo que desejávamos, isso será para sempre nosso. Assim, acabamos por ignorar que piratas estão sempre à espreita.
Há muito o que discutir acerca da democracia no Brasil. As injustiças que ela guarda pousam na mesma prateleira da corrupção, marca registrada da nossa história. Mas discutir a democracia não é ameaçá-la. Ao contrário, é o único caminho para edificá-la.
Quando foi que perdemos a pluralidade dos discursos? Quando foi que paramos de conversar, dialeticamente, sobre nossas diferenças? Não se trata de obter consenso. São até imperativos a possibilidade e o direito de discordarmos. Isso é democracia. Mas se só ouvimos os ecos do nosso discurso, se nos blindamos às diferenças, e se acreditamos na violência como um recurso legítimo, estamos nos tornando zumbis fanáticos – aqueles que servem, em desvario, a um suposto deus; e entregam a ele nossas escolhas e nossa própria consciência.
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